sábado, 5 de outubro de 2013

Estigmas Sociais na Co-dependência

A definição grega para "Estigma" é : sinais corporais que evidenciavam alguma coisa extraordinária ou mau sobre o status moral daquele que os apresentava.
Eu, defino como marcas que nos levam a sentir-nos diferentes dos outros, positiva ou negativamente, por professarmos um estilo de vida que não confira a que a maioria, dentro de um espaço geográfico, denomina correto.
A aceitação ou não de uma pessoa é determinada por outra, onde conceitos pessoais são postos ou impostos.
Então, quero falar de nós, as mulheres que amam os dependentes que tem em sua vida, maridos, filhos, amigos e afins...
Uma das fases mais difíceis de se passar quando nos descobrimos envolvidas de qualquer forma no mundo das drogas, mesmo não sendo usuárias, é a fase de como vou me comportar diante dos estigmas que elas nos impõem. 
Ainda me lembro o quanto foi cruel e triste para mim ser estigmatizada pela minha "escolha" em amar meu marido, e fazer dele meu marido.
Muito parecido à preconceito, os estigmas são de alguma forma mais profundos, pois levam à generalização.
Quando meu marido usa drogas e seu comportamento inadequado o faz cometer coisas desagradáveis, a sociedade nos olha, como se também fôssemos usuárias, e é deste estigma que quero falar e enfatizar o quanto devemos lutar para nos livrar dela.
Quando somos tratadas desta maneira, algo em nós faz crescer a sensação de repúdio a esta mesma sociedade e não é este o caminho para o nosso crescimento enquanto pessoas que estão querendo se tornar melhores seres humanos.
A luta de uma esposa, mãe, ou seja qual for o vínculo, de um dependente químico, é contra uma doença que é crônica, progressiva e fatal,  e isso nos torna mulheres  guerreiras, como nunca se viu. Temos dentro das nossas casas, uma vida que corre perigo a todo instante, risco de morte a cada momento, de prisão, de derrota. E jamais podem se esquecer, que "nossos pacientes", são muitas vezes nossos filhos, maridos, filhas, pais, e que eles morrerão ou irão para u,ma prisão ou instituição, caso esta doença não seja detida.
Passar por esses momentos sendo apontadas como culpadas, covardes, fracassadas, doentes, responsáveis pelos comportamentos deles, insultadas, desmerecidas, não desejadas, torna a luta ainda mais cruel.
Chegamos a desejar o isolamento, pois parece ser a resposta mais fácil para se livrar dos estigmas, sem arrastá-los por aí, como um grilhão, pesado demais, que nos impede de caminhar.
Fazer outras pessoas a terem conceitos diferentes e perceberem o quanto é prejudicial estigmatizar outras pessoas, é tarefa complexa, pois elas realmente acreditam que somos o que suas mentes já determinaram que somos, e que fazemos parte do mundo das drogas, tendo dentro de nossas casas, famílias, nosso amado dependente químico. Resta-nos então, duas opções:
- Concordo com meus estigmatizadores e me isolo em seus conceitos, paraliso, deixo de contribuir, sofro;
- entendo que sou muito importante para a recuperação do "meu paciente" em sua luta contra a adicção e trabalho minha liberdade destes estigmas.
Escolhi a segunda opção. E isso não significa que algumas atitudes não me firam, magoem, mas que é necessário que eu aprenda a passar por elas, para que eu cresça, me fortaleça, tenha algo a mais para oferecer às outras pessoas que surgirão em minha vida.
Acreditar que as atitudes são o maior exemplo que posso dar como contribuição para uma vida melhor, faz com que olhares não me machuquem tanto, dedos apontados já não mais acertem o alvo, o segurança me seguindo dentro dos supermercados não me farão desistir das compras, o irmão da igreja (um tanto conservador rsrsr) que não me cumprimenta mais não é mais responsável pela minha ida ou não às reuniões e assim por diante.
Minha atitude em relação aos estigmas é não atentar para ele como meu guia social. Eu sou um ser humano, onde algumas escolhas pude fazer e outras não, mas me aperfeiçoar para prosseguir sempre será melhor que estacionar.
O livro azul dos Narcóticos Anônimos, diz que, adictos não escolheram ser adictos, mas podem escolher se recuperarem, que não são os responsáveis pela doença, mas o são pela  própria recuperação e isso deve ser para nós também, mulheres que lutam para serem felizes, plenas, mesmo que o restante da sociedade não nos entenda. 
Somos responsáveis pelo nosso bem estar, pela nossa alegria em servir e ser importante parte na recuperação dos que estão à nossa volta, sejam eles quem forem, para nós, mesmo não tendo escolhido ter um filho adicto, podemos escolher ajudá-lo em sua recuperação.
eu escolhi meu marido adicto, venho passando pelos estigmas, mas as únicas marcas que quero que elas me deixem, são as de que houve progresso na cura e nos tornamos sempre melhores hoje do que fomos ontem.
Compartilhe com outras mulheres como nós que há maneiras de viver, melhores, sem estigmas, incentive, libere palavras de ânimo, de alegria.
Vamos nos agrupar, desfazer algumas das idéias trazidas em nossa cultura que nos tornam vulneráveis à desistência.. Vamos caminhar rumo à recuperação! Vamos mostrar através das nossas atitudes em amor que há vida além das drogas e que somos todos merecedores de amor, de respeito, de olhares confiantes...somos mulheres nobres, com uma causa nobre.
Eu creio que há uma nova história sendo escrita por nós e que será deixada como um legado às demais gerações que virão. 
Que Deus nos ajude a amar mais, apesar das diferenças sem precisar estigmatizar ninguém, apenas amar!

Abraços e Paz, muita paz para todas!



"Se livrar dos estigmas faz parte do tratamento de cura, da mesma maneira que, deixar de estigmatizar faz parte do processo de se tornar um ser humano melhor."
Katia Usier

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Mudar as Regras Pode Ser Bom

O desenho falou sobre a primeira família que habitou na terra, onde o pai era daqueles que não aceitava mudanças. A fala rotineira era: "Sempre tenha medo, pois ele nos mantém vivos."
A mãe não disse nada até mais da metade do filme, o filho só fazia bobagens, a caçula era raivosa, avó era odiada pelo pai, como toda historia com sogras, e a filha mais velha...
Ahh! então, ela não aguentava mais viver todos os dias da mesma maneira, ouvindo seu pai falar sobre o medo,  ordenando que se mantivessem da mesma forma, fazendo tudo igual, seguindo as mesmas regras. Regras essas que já não estavam mais dando resultados positivos. Era primata, a terra estava por sofrer a sua primeira destruição, aquela da era dos dinossauros, onde meteoros caíram e fizeram enormes crateras, destruindo tudo. Era preciso sair em busca de um lugar mais seguro que a "caverna" onde estavam até agora, mas e o medo? Sair da escuridão da caverna era ter que ir para o sol, para a luz, para o amanhã.Desconhecido. Temido.
Bem, no decorrer desta história, surge outro personagem, oposto aos demais, cuja família estava morta, e a ultima frase que ouviu de seus pais foi: "Nunca se esconda".
Isso fez toda a diferença na sua vida.
Ele escolheu então viver de forma que seguisse para frente, para o amanhã, mesmo que estivesse meio longe, meio desconhecido. Ele escolheu ter e executar idéias, viver mudanças,mesmo que fossem por um dia. Escolheu tentar. Foi para o Sol, para a claridade. E seguindo seus passos, até chegar o final da história, todos os daquela família, começaram a mudar de atitudes, tentar coisas novas, mudar as regras, já que as antigas já não estavam mais funcionando e desta maneira, por último, o pai resolveu ceder e mudar também. Demorou um pouco mais que os outros, dado á sua teimosia, mas valeu a pena no final. Conquistaram um lugar muito melhor para viver, escaparam da catástrofe, a família cresceu, se agrupou, melhorou, e o medo diminuiu; deu lugar às novidades.
Essa pode ser neste momento a minha, a nossa história.
O medo paralisa. Faz com que continuemos presas à escuridão. É preciso mudar de regras.
Com meu marido dependente de drogas e minha vida de co-dependente, algumas coisas pararam de funcionar. Gritar não resolve, então vou parar de gritar.
Boicotar a fala também não tem mais efeito, então vou falar se for preciso;
Deixar de fazer coisas, de sair, trabalhar, estudar, ser útil, não o faz parar de usar drogas, e nem o faz mudar de comportamento, vou viver a vida e deixá-lo viver, desapegar com amor, deixá-lo arcar com consequências que ele mesmo procurou por causa desse comportamento inadequado.
Vou mudar as regras por aqui, sair da escuridão que me prende e buscar o amanhã ensolarado.
Insistir que é preciso cuidar da doença, se tratar, buscar ajuda, mas se não quiser, não posso viver a sua escolha.
Nesta história de dependência química, não tem lugar para regras que não funcionam.
Na nossa história de ajudadoras, não há espaço para o medo, pois uma coisa que não podemos ficar é paralisadas, e o medo nos paralisa.
Primeiro mudo meus pensamentos, com minha mente aberta às mudanças, trago à boca falas, palavras de vitória, de esperança, que logo, se materializam em atitudes novas, que resultarão em  dias novos.
Tentar pode ser um caminho que nos tire desta escuridão e nos proporcione dias de sol...